15 JUL | Sonhos Lúcidos – Viagem à terra dos Maias

Realização:
Fernando Almeida e João Campos

22:00 | Sede do Cineclube de Guimarães

 Sessão nº 3057

 

EM CONTRA-CICLO

Há todas as razões para retermos a epígrafe que comanda este trabalho. Ela não se limita a ser uma proposta de leitura que provém dos próprios autores, é acima de tudo a indicação de um incontornável de leitura para todos os trabalhos desta índole.
De facto, quando Bernardo Soares diz que “As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.”, a ideia de relato de viajem como expedição ao território do outro, a ideia de turismo (mesmo na sua dimensão mais generosamente multicultural de encontro de diferenças num mesmo plano de valor), a ideia de um ponto de vista pós-colonial que retroage sobre uma narrativa por demais conhecida – tudo isso implode silenciosamente. Não é que não seja importante, não é que não seja verdadeiro, mas não tem a radicalidade, a simplicidade radical para que Bernardo Soares aponta.
E não, não é uma questão de globalização, de suposta homogeneidade cultural ou mesmo de igual submissão a uma superestrutura económica capitalisticamente universal – coisas falsas se consideradas apenas em si mesmas, mas verdadeiras se vistas pelo lado dos seus efeitos locais.
A radicalidade que Bernardo Soares aponta é mais simples, por isso mais radical: só vemos o que entendemos, o que somos como mundo. No que entendemos, há o que identificamos e há o estranho. O estranho é a fronteira do mundo que somos, é o estranho que identificamos como tal por relação ao que sabemos. O resto, não o vemos.
Sonhos Lúcidos é obviamente sobre nós, Portugal século XXI visto por interpostas imagens e gentes da terra dos Maias. A província que lateja em toda a nossa metrópole urbana, ainda que sem a modesta alegria que vemos em algumas destas imagens noturnas. Uma paisagem soberba, como um dom natural para a qual não temos encontrado nem utilidade social nem profundo desfrute espiritual. As ruínas de uma história passada, ou o nosso interior como uma vasta instalação de restos. E de forma mais evidente do que nos filmes de Hitchcock, lá estão os cameos dos autores & troupe: quem os conhece, reconhece-os; quem não os conhece, não nota o “estrangeiro”, e essa é a radical verdade para que Bernardo Soares afinal apontava.
Há também uma narrativa, e os capítulos e seus títulos não enganam quanto a isso. Há o sentido de um final, que se espraia esperançoso pelo termo “vida”.
É estranho que um tal final e um tal termo nos cheguem como que em contra-ciclo. Se fosse uma década atrás, faríamos talvez a crítica do sincretismo new age que anima as palavras de um entrevistado, ou a crítica da identificação sentimental vida=criança que fecha esta narrativa. Nada disso nos havia ainda sido tirado, podíamos criticá-lo à vontade, porque essa crítica era sempre uma forma de introduzir elegância numa sobre-abundância. Hoje, porém, até isso temos de reivindicar como mínimos que nos são devidos. Por outras palavras, voltamos a ter de sonhar lucidamente.
Luís Mourão
novembro 2012

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